quarta-feira, 25 de abril de 2007
Pelado, pelado, nu com a mão no bolso!
Todo mundo que freqüentou a escola a tempo de sair do jardim da infância cresceu ouvindo os professores de história comentarem que foi a colonização portuguesa que acabou com a ingenuidade dos primeiros habitantes do Brasil, os índios. Um pouco mais tarde, ainda no colégio, reforçamos essa idéia ao conhecer a teoria do “Bom Selvagem”, criada pelo filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau.
O mito de que o homem em seu estado natural não é contaminado por constrangimentos sociais ganhou força e hoje parece estar em declínio, mas confesso que concordo com o pensamento de Rousseau. Afinal, foi só depois do bendito descobrimento - quando os europeus chegaram no nosso lindo país tropical para tacar roupa em todo mundo - que o negócio mudou de figura. Acho que foi exatamente a partir daí que o Brasil passou a ter vergonha, ou melhor, a ser uma nação de desavergonhados vestidos. Que o diga Brasília, com tantos caras de pau elegantemente trajados.
Pois bem, aqui no Japão a sociedade evoluiu e a tecnologia conquistou o país, mas os falsos pudores, tão comuns a nós, ocidentais, continuam lá trás. O maior exemplo disso é que um hábito intrínseco à vida dos nossos ancestrais, os índios, que era ficar nu em público, continua a ser um costume na terra do Sol Nascente. Calma, não pensem que os japoneses saem por aí fazendo strip tease na rua! Estou falando que o nudismo, em locais apropriados e privados, é coisa bem normal por aqui, feito em família, nos passeios aos domingos.
Esses locais, denominados “onsens”, são casas de banho que utilizam fontes naturais de águas termais com o único objetivo de trazer relaxamento para o corpo dos seus fiéis adeptos. Como as praias de nudismo no Brasil, esses lugares também possuem etiquetas a serem seguidas, e ficar pelado é a primeira delas. Ruim para mim, que fui pega de surpresa depois de um inocente passeio pelas montanhas com amigos e não tinha feito qualquer preparação psicológica para me despir na frente das japonesas, que, pela falta de timidez, devem ter algum parentesco distante com os índios.
Descendente de brancos portugueses e negros africanos (até onde sei sem quaisquer vestígios de sangue indígena), só faltei enfiar minha cara num buraco para não ter que entrar nas águas constrangedoras – ops, relaxantes - do bendito onsen japonês. Naquelas horas, não dava mais tempo para me arrepender de nunca ter ido à Praia de Tambaba, de não ter optado por perder a vergonha mais perto de casa, ali na Paraíba. Eu tinha justamente que atravessar o globo terrestre para fazer isso onde todo mundo é fenotipicamente diferente de mim? Não precisa nem dizer que meu pavor era parecer atração turística para as asiáticas, né?
Ok, vou deixar de blábláblá e contar para vocês, iniciantes na prática do nudismo, o que os japoneses costumam fazer nos onsens. Excetuando o detalhe de não haver roupa alguma sobre os nossos corpos, até que se tratam de locais muito relaxantes sim, onde é possível meditar de diversas formas.
Na casa de banhos onde fui havia pequenas salas cobertas por tatames e cercadas por ícones igualmente orientais, a exemplo da imagem de Buda, para que os visitantes entrassem “de cabeça” no clima zen. Não podia esquecer de mencionar a paisagem ao redor: com tantas árvores e plantas cercando as piscinas naturais, até que dá para esquecer que é preciso ficar “como se vem ao mundo” na frente de estranhos. Estranhos que, ao contrário de mim, têm olhos puxados, mas enxergam muito bem.
Enfim, voltando ao “passo-a-passo” do onsen. Antes de pular nas águas termais os freqüentadores guardam seus pertences em armários individuais e depois seguem para uma sala coletiva a fim de tomar uma ducha para fazer o asseio das partes íntimas, claro. A única coisa estranha é que as pessoas tomam banho sentadas em um banquinho de madeira, em frente a um espelho, apenas com uma cuia à disposição para molhar a cabeça.
Embora fingisse ser tudo muito natural, arrisquei dar uma olhada pela sala para ver o comportamento das minhas companheiras, todas muito à vontade. Menos eu, claro, que não pude evitar o olhar curioso de uma menininha japonesa que não parava de prestar atenção em tudo o que eu fazia. Criança, como sempre, é de uma sinceridade e de uma indiscrição incrível…
Cumprida essa etapa, é hora de escolher o melhor lugar para ficar e desfrutar do momento, seja tomando um banho de sol ou olhando as estrelas (isso mesmo, os onsens costumam ficar abertos até as 22h). E que a tranqüilidade de “bom selvagem” seja eterna enquanto dure. Que tal, deu vontade de experimentar?
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20 comentários:
OLá meu nome é Miguel Angelo e trabalhei com Gustavo. Estou adorando suas histórias, você escreve muito bem.
Fico ansioso pelas próximas.
Abraços.
Eu quero Tambaba japonesa!! Tô precisando d+
Bjs brasileiros!
Pra variar, deixarei meu comentário cafajeste aqui: e onde estava a Scarlett Johanson nesse onsen? :(
Mas sério, o pessoal ficou reparando em você mesmo ou não? Digo, além da criança lá...
Caramba, que situação! Mas pelo menos espero que tenha relaxado alguma coisa ne? hihiih...bjs
Bruninha, achei o lugar lindíssimo!!! Confesso q teria a mesma vergonha, já q ainda não me arrisquei a perdê-la nas areias de Tambaba, na Paraíba, mas com essa beleza toda ao redor juroooo q a vergonha iria por água abaixo e relaxar seria meu único pensamento! Show de bola! E o texto está maravilhoso! Um beijão p tu amiga e p Gustavo tbém!
=)
Como sempre o seu Blog foi muito instrutivo e divertido.
Gostei da estratégia de marketing: mandar e-mail para todo mundo falando em nudismo. Brasileiro é tarado e vê sacanagem em tudo! Os acessos devem ter chegado a níveis estratosféricos.
Não acredito que você foi ingênua a ponto de ir a um lugar desses e achar que não tinha que ficar pelada. Só faltou você comentar se o onsen era misto ou não. >:P
Um cherô pra tu, menina.
Continue escrevendo as sua experiências, viu?
Ah Brunete, esse negócio de Tambaba...chique é atravessar o oceano mesmo...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk..adorei, e fiquei imaginando a troca de olhares seus e da garotinha, claro!!! bjs
Pessoal, estou adorando a participação de vcs. Primeiro de tudo, deixa eu enfatizar aqui que o onsen não era misto. Mulher só com mulher, homem só com homem. Respondendo as demais perguntas e comentários:
Miguel, obrigada pela visita e continue acompanhando o blog. Iale, ache que do jeito que tu é natureba iria gostar mesmo do onsen.. kkkk! Bruno, Scarlett não aparece nesses cantos não...Além de mim, só tem Myuki, Maya, Satoko e por aí vai! kkk! Ah, os japoneses são discretos, eles não ficam olhando pra ninguém. Mas é claro que eu notei um ou outro "rabicho" de olho perdido...Lu, deu pra relaxar um pouquinho..quando eu tava coberta!!! Lucila, o lugar é lindo mesmo, nossa, show! Walton, é CLARO QUE FALAR DE NUDISMO foi estratégia! kkk! Mas acho que o pessoal queria encontrar sacanagem, se decepcionou e não postou muito em protesto! kkkkk! Dricosa, pelo menos ficar nua aqui ninguém me conhece, né? Tem essa vantagem.. Bjos a todos! Ufa!
A pergunta que não quer calar: é atravessada mesmo? :P
Bruna, adoro seu blog. Ele me inspira. Parabéns!
Eu iria adorar me banhar nestes lugares tão relaxantes e com paisagens belíssimas!!! Acho q não sentiria vergonha não... seria somente o tempo de tirar a roupa, depois iria aproveitar as águas termais e admirar a paisagem... bjs filha e aproveita!
Na minha lua-de-mel no Havaí há três meses, eu e minha esposa fomos andar na praia e, de repente, entramos tb numa praia de nudismo... Pena q nao tivemos sua coragem e passamos batido, rapidinho... hehehe Depois ainda voltamos por lá de novo pq nao tinha outra rota, mas o povo nem pareceu notar nossa presença...
Abração!
Daí Bruna!!
Muito legal su Blog! Gostei, mesmo!
Vou acompanhar...
Abraço!
Cadê post novo, ein? Cadê?
Beijo graaande
Queridos, desculpem o atraso imeeeeeeeenso, mas prometo que ainda hoje escrevo um texto novinho em folha para vcs lerem! Juro! bjos!
Bruna, estudei com Gustavo no Nobrega e recebi a mensagem dele falando sobre seu Blog. Vc escreve muito bem! Já li tudo que você postou e estou esperando pelos proximos. Parabens!!
Bubu, ficasse pelada!
asjasaçlksjaçlskjaçslkas
eu não ia encarar não, ia morrer de vregonha.
#)
mas experiências como essa não têm preço, né? Aproveite!
Eita menina. e se esse fosse um fotoblog? hahahhahah Beijos. mande mais notícias desse "povo estranho".
Abandonou completamente o blog amore???
xero pra tu!!!
Olá Bruna, adorei o seu blog, você escreve muuuuiiiito bem, sou sua mais nova fã. você é do nordeste?
Sou de MAceió-Al e meu esposo pernambucano de Olinda. Parabéns! Adoro o seu trabalho.
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