quarta-feira, 25 de abril de 2007

Pelado, pelado, nu com a mão no bolso!





Todo mundo que freqüentou a escola a tempo de sair do jardim da infância cresceu ouvindo os professores de história comentarem que foi a colonização portuguesa que acabou com a ingenuidade dos primeiros habitantes do Brasil, os índios. Um pouco mais tarde, ainda no colégio, reforçamos essa idéia ao conhecer a teoria do “Bom Selvagem”, criada pelo filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau.
O mito de que o homem em seu estado natural não é contaminado por constrangimentos sociais ganhou força e hoje parece estar em declínio, mas confesso que concordo com o pensamento de Rousseau. Afinal, foi só depois do bendito descobrimento - quando os europeus chegaram no nosso lindo país tropical para tacar roupa em todo mundo - que o negócio mudou de figura. Acho que foi exatamente a partir daí que o Brasil passou a ter vergonha, ou melhor, a ser uma nação de desavergonhados vestidos. Que o diga Brasília, com tantos caras de pau elegantemente trajados.
Pois bem, aqui no Japão a sociedade evoluiu e a tecnologia conquistou o país, mas os falsos pudores, tão comuns a nós, ocidentais, continuam lá trás. O maior exemplo disso é que um hábito intrínseco à vida dos nossos ancestrais, os índios, que era ficar nu em público, continua a ser um costume na terra do Sol Nascente. Calma, não pensem que os japoneses saem por aí fazendo strip tease na rua! Estou falando que o nudismo, em locais apropriados e privados, é coisa bem normal por aqui, feito em família, nos passeios aos domingos.
Esses locais, denominados “onsens”, são casas de banho que utilizam fontes naturais de águas termais com o único objetivo de trazer relaxamento para o corpo dos seus fiéis adeptos. Como as praias de nudismo no Brasil, esses lugares também possuem etiquetas a serem seguidas, e ficar pelado é a primeira delas. Ruim para mim, que fui pega de surpresa depois de um inocente passeio pelas montanhas com amigos e não tinha feito qualquer preparação psicológica para me despir na frente das japonesas, que, pela falta de timidez, devem ter algum parentesco distante com os índios.
Descendente de brancos portugueses e negros africanos (até onde sei sem quaisquer vestígios de sangue indígena), só faltei enfiar minha cara num buraco para não ter que entrar nas águas constrangedoras – ops, relaxantes - do bendito onsen japonês. Naquelas horas, não dava mais tempo para me arrepender de nunca ter ido à Praia de Tambaba, de não ter optado por perder a vergonha mais perto de casa, ali na Paraíba. Eu tinha justamente que atravessar o globo terrestre para fazer isso onde todo mundo é fenotipicamente diferente de mim? Não precisa nem dizer que meu pavor era parecer atração turística para as asiáticas, né?
Ok, vou deixar de blábláblá e contar para vocês, iniciantes na prática do nudismo, o que os japoneses costumam fazer nos onsens. Excetuando o detalhe de não haver roupa alguma sobre os nossos corpos, até que se tratam de locais muito relaxantes sim, onde é possível meditar de diversas formas.
Na casa de banhos onde fui havia pequenas salas cobertas por tatames e cercadas por ícones igualmente orientais, a exemplo da imagem de Buda, para que os visitantes entrassem “de cabeça” no clima zen. Não podia esquecer de mencionar a paisagem ao redor: com tantas árvores e plantas cercando as piscinas naturais, até que dá para esquecer que é preciso ficar “como se vem ao mundo” na frente de estranhos. Estranhos que, ao contrário de mim, têm olhos puxados, mas enxergam muito bem.
Enfim, voltando ao “passo-a-passo” do onsen. Antes de pular nas águas termais os freqüentadores guardam seus pertences em armários individuais e depois seguem para uma sala coletiva a fim de tomar uma ducha para fazer o asseio das partes íntimas, claro. A única coisa estranha é que as pessoas tomam banho sentadas em um banquinho de madeira, em frente a um espelho, apenas com uma cuia à disposição para molhar a cabeça.
Embora fingisse ser tudo muito natural, arrisquei dar uma olhada pela sala para ver o comportamento das minhas companheiras, todas muito à vontade. Menos eu, claro, que não pude evitar o olhar curioso de uma menininha japonesa que não parava de prestar atenção em tudo o que eu fazia. Criança, como sempre, é de uma sinceridade e de uma indiscrição incrível…
Cumprida essa etapa, é hora de escolher o melhor lugar para ficar e desfrutar do momento, seja tomando um banho de sol ou olhando as estrelas (isso mesmo, os onsens costumam ficar abertos até as 22h). E que a tranqüilidade de “bom selvagem” seja eterna enquanto dure. Que tal, deu vontade de experimentar?

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Lost in Translation à brasileira




Todas as vezes que comentei com alguém que estava de malas prontas para morar no Japão, a primeira coisa que me perguntavam é se eu já havia assistido o filme “Lost in Translation” (Encontros e Desencontros, na versão brasileira), aquele que Scarlett Johansson aparece perdida e solitária em Tóquio. Isso, claro, até encontrar e fazer amizade com Bill Murray, aparentemente tão deslocado e sozinho quanto ela.
Como a maioria dos que assistiram, achei o filme de Sofia Coppola bastante interessante. A diferença é que, agora, além de ter conferido a produção no cinema, posso dizer que vivi o roteiro de “Lost in Translation” na pele. Claro que o trem de Tóquio e seu emaranhado de linhas e estações (com nomes complicadíssimos, vale salientar) tinham que ser protagonistas dessa história, que durou cerca de quatro horas - entre idas e vindas em vagões com destinos diferentes.
Qualquer pessoa sabe que se perder no meio de transporte mais utilizado no Japão não é tarefa difícil, até porque, no Brasil, só os paulistanos estão acostumados a essa correria diária, de sair trocando de um metrô para outro até chegar ao destino desejado. Imagine então fazer isso em uma cidade onde tudo é escrito em japonês… Está bem que isso não é regra, pois quase todos os vagões dispõem de informações em inglês, mas para uma pessoa perdida e sem noção de direção como eu isso não ajuda muito.
Aliás, eu nunca fui uma expert nesse assunto. Na única vez que estive na Argentina consegui cometer a proeza de pegar linhas diferentes do metrô de Buenos Aires e voltar para o mesmo lugar de onde eu havia saído minutos antes. Frustrada e atrasada para o passeio que ia fazer naquele dia, acabei desistindo de pegar o transporte subterrâneo para seguir de táxi. Sem falar que fui reprovada no teste de direção e recentemente levei uma queda fenomenal de bicicleta, meu novo meio de transporte. Coisas de quem não tem coordenação motora e nunca teve uma bússola na vida…
Dessa vez a história foi parecida: entrei sozinha em um trem com destino a Shimo-Takaido, lugar onde eu deveria encontrar meu respectivo marido para de lá pegarmos um outro trem, com destino a “não sei mais que lugar era”. Atrasada, com frio, descabelada e ofegante depois de caminhar debaixo de chuva por mais de 20 minutos até a estação mais próxima de minha casa, Sengawa, entrei em um vagão com a certeza de que dois mais dois são quatro, afinal eu tinha anotado todas as instruções que ele me dera na noite anterior. Instruções, vale salientar, repassadas com certa desconfiança por meu cônjuge, que depois de me ver anotar tudo, perguntou, com uma risadinha no canto da boca: "ô meu amor, e se você se perder e eu nunca mais te achar?". Eu, claro, nem dei bola, certa de que não iria falhar. Ah, antes parei em uma lojinha para comprar um guarda-chuva, apesar de já estar ensopada, pois meu lindo marido tinha acordado atrasado para ir à universidade e precisou pegar a minha bike emprestada. Eu, claro, fiquei a pé.
Não me perguntem como, mas só cheguei ao local marcado cerca de uma hora e meia depois do combinado. É que cometi a trapalhada de pegar a linha para Chofu, que ia no sentido oposto à minha, Shinjuku. Algo como uma pessoa que deseja ir para Boa Viagem e acaba indo para o Janga. Enfim, o problema é que só vim me tocar que estava indo para o lado errado quando me virei para a senhora sentada ao lado e perguntei, em um inglês precário, se aquele trem iria para Shimo-Takaido, que essas horas já estava a umas 20 estações de distância. A senhorinha, com cara de espantada, gentilmente me ordenou que voltasse, em um sonoro BACK! Eu, claro, devido ao meu japonês inexistente, agradeci com um arigatô rasteiro e saí de fininho para pegar outro vagão.
Como se não bastasse a confusão toda, lá estou eu, desta vez no trem certo e tentando ler um mapa nesse idioma multigráfico, quando um senhor de cabelos grisalhos, poucos dentes na boca e um hálito que denunciava a garrafa de saquê que ele tinha “derrubado” minutos antes, senta ao meu lado para “trocar umas idéias”. Primeiro, danou-se a rir porque viu aquela gaijin de cabeleira loira tentando ler nihongo, ou melhor, japonês.
Tá, tudo bem, deve mesmo ser engraçado tirar sarro de gringo, mas ele não precisava ter sentado ao meu lado para ficar falando coisas que eu não entendia, numa tentativa de me deixar bêbada indiretamente. Acho que se eu acendesse um fósforo ele explodia. Não adiantou eu falar diversas e repetidas vezes “wakarimasen”, que nessa língua complicada significa “não entendo”, porque o cara continuava a falar. E não devia ser coisa boa, pois tinha um japinha do meu lado – ai, que redundância - que não parava de balançar a cabeça em sinal de reprovação. Resumindo: coloquei meu mapinha debaixo do braço e troquei de vagão, deixando o bêbado sem dentes falando sozinho.
Livre do cachaceiro (ou será saquezeiro?) e já no meu esperado destino, mais uma vez me senti na pele de Scarlett Johansson. Sem celular e sem avistar Gustavo em parte alguma - que naquele momento já pensava em ligar para a polícia e oficializar o meu desaparecimento -, lá vou eu tentar usar um orelhão para acabar com aquela agonia e finalmente ouvir uma voz familiar aos meus ouvidos. Acontece que todas as DEZ vezes que liguei a única voz que escutei foi a da telefonista, numa gravação definitivamente incompreensível para mim. Não sabia se o telefone estava desligado, fora de área ou ocupado. Acabei soltando um PQP em bom português e peguei o caminho de volta para casa. Ah, claro, mas antes parei em um Mc Donald’s para tomar uma injeção de “Ocidente” na veia, porque ninguém é de ferro.

sábado, 14 de abril de 2007

Cultura estranha = comida esquisita





Já diria a sabedoria popular que “saco vazio não se põe em pé”. Por isso mesmo vivo sendo questionada sobre o que os ocidentais fazem para se alimentar sem tantos choques culturais; diria até que essa é a pergunta número um dos burajirujin (apertando a tecla sap: brasileiros), quando menciono que meu novo lar fica no “país dos terremotos”.
A primeira dúvida pode até ser infantil, mas é uma preocupação que tem cabimento, sim senhor. Afinal, todos querem saber se a comida japonesa que conhecemos é mesmo a comida consumida no Japão ou se existe uma farsa por trás de todo sushi bar, tão em moda no Brasil. Como todos já devem imaginar, a culinária asiática vai bem mais além do que os famosos sushis e sashimis, da mesma forma que a população “canarinha” não vive de caipirinha e feijoada.
Outra versão que circula no Brasil sobre esse tema é que sushi é comida de festa, que essa iguaria só vai à mesa quando há alguma comemoração especial. Mas não é. É comidinha normal, encontrada em marmitas (os famosos obentos) prontas nos supermercados, que custam pouco mais de 500 ienes, algo como cinco dólares.
Um lugar bastante popular aqui é o kaitenzushi (ver foto acima), restaurante onde os pratinhos ficam rodando com sushis e outras comidinhas numa esteira rolante. O preço é por prato, e cada um dos clientes, que ficam sentados ao redor da esteira formando um círculo, vão pegando o que dá vontade até se sentirem satisfeitos. No fim, o garçom conta o número de pratos que tem na pilha montada pelo “glutão” e calcula a conta, que é paga na saída. Prático, rápido e cômodo.
O detalhe que impressiona, para quem vem de fora, é a quantidade das porções vendidas, inclusive as industrializadas. Para mim, foi um tremendo choque sair dos Estados Unidos, onde fiz um pit stop de duas semanas antes de vir para o Japão, para ver que na terra do Godzilla tudo parece ser amostra grátis. E grátis com letra maiúscula! Como será que aquele macaco gigante faria para se alimentar, se ele fosse mesmo real? E o Ultraman, de onde tiraria tantos poderes?
A primeira vez que fui ao supermercado fazer compras parecia que estava indo a um passeio, porque tudo que estava nas prateleiras me chamava a atenção. A começar pelos peixes e vegetais, muitos que eu nunca havia visto. O que despertou a maior curiosidade foi um peixinho horrível, que até hoje não sei o nome, mas foi batizado por mim de “peixe minhoca”. Eles parecem piabas nanicas e são preparadas aos montes. Argh, nada apetitoso.
Ah, uma pista de que as comidas aqui são em porções minúsculas é o tamanho dos carrinhos de supermercado. Eles só dão para carregar duas cestinhas daquelas que costumamos ver aí no Brasil. Realmente, nunca vi um japonês encher as duas. Quer comer uma frutinha? Tá, tudo bem, você vai pagar por unidade. Até o limão, que no Brasil a gente vê uma dúzia vendida a R$ 1 no sinal, aqui custa cerca de 1,5 dólar. Mas isso é fichinha junto do melão. Uma vez parei em uma quitanda para olhar as frutas e vi que uma caixa com duas unidades (que são pequenas, vale salientar) saía por espantosos cem dólares!! Soube que tem gente que dá melão de presente no aniversário de um grande amigo, de um parente... Ainda bem que nunca gostei de melão!
Sim, não poderia esquecer das guloseimas, tão estranhas quanto os peixinhos minhoca. Biscoito de chocolate tem, mas muitas marcas são importadas. Pelo que deu para perceber, a especialidade daqui é o biscoito exótico: tem de arroz com açúcar (meu favorito), de feijão, de molho shoyo… E nada daqui é doce mesmo, porque as pessoas não gostam de açúcar.
A primeira vez que fui almoçar fora cometi a sandice de perguntar onde tinha açúcar para eu pôr no chá. O garçom ficou desconsertado ao dizer para a pobre gaijin que simplesmente não tinha. Na hora achei um absurdo, coisa de outro mundo, mas agora sei como eles conseguem manter uma silhueta tão mignon. Aliás, ninguém aqui deve morrer de diabetes, pois em NENHUM restaurante tem açúcar, e comprar refrigerante também é difícil, se não for nas máquinas que existem nas esquinas. O negócio é se acostumar a beber água ou chá verde, que é ruim, mas emagrece.
Os nipônicos também gostam de suco de vegetais, e muitos não têm uma frutinha sequer no meio. É suco de abobrinha com cenoura, de tomate com acelga e por aí vai. O último que tomei, da marca Kagome (com um nome desses o negócio não podia mesmo prestar... Olhem a cara do produto na foto, para nunca correr o risco de comprar), parecia molho de tomate gelado, um horror!
Bem, como já deu para notar, coisas diferentes não faltam por aqui. Hoje vou deixar vocês com essas duzentas linhas, respirar e tomar um copo de água da torneira, que é insípida, inodora, incolor e de graça. Prometo que da próxima vez não conto tudo nos mínimos detalhes!

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Who's bad?



Assista à chegada de Michael Jackson ao Japão!


Talvez a única metrópole de peso que ainda dê importância de igual quilate ao ídolo pop-falido-irreverente Michael Jackson seja Tóquio. Isso mesmo, a capital onde tradição e modernidade convivem numa boa, sem grandes traumas. Não sei se as pessoas no Japão curtem o estilo de vida meio louco do cantor metido a Peter Pan ou se têm uma capacidade sobre-humana de perdoar, mas é aqui, no coração da Ásia, que o ex-garotinho inocente do Jackson 5 ainda exerce o poder de cativar multidões, apesar de sua imagem ter ficado bastante arranhada depois da acusação de aliciador de criancinhas, da qual foi inocentado há quase dois anos pela Justiça norte-americana. E o amor parece ser mútuo: ao visitar o Japão em março deste ano, o ídolo disse que esse é um dos lugares que ele mais gosta, em todo o mundo.
Na verdade, cheguei a essa constatação – de que o Japão admira mesmo Michael – ainda nos meus primeiros dias na Terra do Sol Nascente. Não precisei ir a boate alguma de Shibuya, point dos fashionistas de plantão, para observar que os japoneses adoram o dono do rancho Neverland. Também não foi pelas máscaras cirúrgicas que quase metade da população usa diariamente para se proteger da gripe, assim como nosso Jackson (que não pensa na gripe, mas em suas plásticas horríveis), que deve ter aderido à moda depois que veio fazer algum show por aqui, aposto!
Essa percepção surgiu meio que inconscientemente, depois de ver que as suas canções tocam até no supermercado, um dos lugares menos indicados para encontrar fãs de um ídolo um tanto quanto problemático, concordam?
A essas horas o caro leitor deve estar se perguntando como Michael conseguiu se manter vivo nas paradas do sucesso japonesas durante todo esse tempo, se ele amargou um fracasso estrondoso nas vendas do seu último álbum, uma coletânea de sucessos que, nos tempos áureos do pop (quando Madonna não ligava pra essa coisa de Cabala e os jovens sabiam quem era Prince), não saíam da boca do mundo “antenado”.
Será que, como todo modernoso que se preze, os japoneses cultivam seu carinho pelo intérprete de “Who’s bad?” porque tudo que é over está na moda? Bem, de fato não sei. Mas acho que Peter – ops, Michael - deveria transferir Neverland para cá. Ele iria A-MAR os metrôs de Hello Kitty e os boqueninhos com cara de Pokemon que enfeitam as ruas dessa cidade que não dorme.

* A FOTO E O VÍDEO DESSE POST SÃO DO THE SHOW BUZZ E DA CBS NEWS, RESPECTIVAMENTE.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Ser diferente, aqui, é normal












Como moda é coisa séria no Japão e não há nada melhor para expressar as características e costumes de um povo do que pelo modo com o qual ele se veste, esse assunto sempre acaba despertando a curiosidade do gaijin (apertando a tecla sap: estrangeiro), que está milhas e milhas distante de sua terra natal. Nesse grupo também estão os homens, normalmente alheios a preocupações que periodicamente afetam as cabecinhas femininas, como as tendências da próxima estação. Aqui, a impressão que se tem é que a moda sai direto das passarelas para as ruas, sem paradas para quaisquer modificações no caminho. Até mesmo aquelas esquisitices que ninguém em sã consciência no Brasil se arriscaria a usar.
Apesar das coisas estranhas que já vi em Tóquio – a exemplo das garotas do bairro de Shibuya, que se pintam com uma maquiagem tão forte que deixa seus rostos marrons, diferentes da cor natural dos seus corpos (ver foto acima) -, não existe cidade mais empolgante para uma mulher que adore ir às compras. Principalmente porque usar uma simples bota já seria motivo de chacota em alguns lugares do nosso país tropical, que ainda não conseguiu desvencilhar a imagem desses desejados calçados de inverno à eterna Rainha dos Baixinhos, a Xuxa. Experiência própria dessa ex-baixinha que vos fala; no último fim de semana, por exemplo, decidi usar uma saia com botas e acabei me sentindo a própria Xuxa do Nordeste!
Bem,voltando aos asiáticos. No Ocidente, quando se fala do Japão, todos estão acostumados apenas aos populares quimonos, roupas tradicionais que continuam sendo usadas tranqüilamente nas ruas, apesar dos jovens já terem adotado um estilo mais futurista em seu cotidiano, ousadia que normalmente é acompanhada pelas mulheres “maduras”, acima dos 30, apenas nos sapatos. Afinal, há saltos para todos os gostos: vermelhos de verniz, botas de cano longo, saltos agulha e por aí vai. Uma infinidade de modelos que deixaria qualquer Arezzo com inveja.
Aqui, a moda não é restrita ao universo feminino, pois os homens também estão acostumados a criar um estilo próprio no dia-a-dia, com bolsas a tiracolo, cabelos punks ou repicados de várias cores, jaquetas de couro e outras modernices de cidade grande. Ah, óculos escuros de noite também pode, é normal. Tá, não tem sol, mas quem se importa com esse mero detalhe?
Além das esquisitices de Shibuya, outro local que merece destaque é Harajuku, onde é comum as moças tirarem dos seus guarda-roupas peças que mais parecem fantasias de Carnaval. São inúmeras mulheres vestidas como bebês de cinco anos de idade, empunhando vestidinhos cor-de-rosa com babadinhos e, nos pés, sapatos boneca, claro (tenho fotos para comprovar!). Sinceramente, uma coisa estranhíssima… Ah, também tem as colegiais – de verdade e as falsas -, que acabam inspirando os mangás eróticos, que são folheados sem o menor pudor pelo público masculino dentro dos metrôs. Ah, com tanta inovação, não tem testosterona que agüente, né?

* AS FOTOS DESTE POST, COM EXCEÇÃO DAS TRÊS PRIMEIRAS, DE MINHA AUTORIA, FORAM COLETADAS DE SITES QUE FALAM SOBRE OS BAIRROS DE TÓQUIO AQUI CITADOS, SHIBUYA E HARAJUKU. DESCULPEM TER TIDO QUE APELAR PARA A INTERNET, MAS MINHA CÂMERA AINDA NÃO É TÃO BOA PARA GARANTIR FOTOS EXCELENTES. ALGUÉM SE HABILITA A ME AJUDAR A COMPRAR UMA PROFISSIONAL?

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Moderno, moderníssimo!





Quando se fala de Japão, é praticamente óbvio, ululante, que todos lembrem de tecnologia e pensem o quanto deve ser bom viver num país onde tudo é moderno. Até quem não nasceu de olhinhos puxados acaba ficando mais ou menos acostumado à comodidade que a tecnologia é capaz de proporcionar. Faz apenas 15 dias que cheguei a terras nipônicas, mas dia desses fui surpreendida parada em frente à porta de um estabelecimento esperando que ela abrisse sozinha. Como ela era manual e eu ainda não tenho o poder de dizer “abre-te sézamo!”, precisei empurrá-la, o que imediatamente me fez pensar como os japoneses devem ficar arrasados quando se deparam com algo, digamos, obsoleto. Afinal, até a privada dos banheiros públicos possuem inúmeros botões para o usuário escolher se quer lavar, enxugar, ouvir música... Tá, tudo bem, não é exatamente música, mas existe um botãozinho que imita o som de uma descarga sendo acionada, enquanto a pessoa faz as suas, hum, digamos, necessidades! Afinal, banheiro público é um entra e sai danado...
Mas para gente como a gente, que ainda leva pau do computador, curioso mesmo não é se deparar com aquela parafernália toda nas ruas e ver outdoors digitais se movimentando em prédios de vidro como numa tevê de cristal líquida de trocentas polegadas, iguais aos que estamos acostumados a ver nos filmes hollywoodianos. Definitivamente, engraçado é observar como o comportamento das pessoas muda com a tecnologia. De certa forma, os japoneses acabam até se fechando em seus mundinhos particulares, e acabam ganhando um “quê” de autistas por causa disso.
Tive certeza dessa teoria quando observei que os metrôs parecem túmulos de tão silenciosos, apesar das centenas de pessoas que se espremem dentro dos vagões, principalmente nos horários de "rush". Para começar, aqui deve existir a maior concentração de celulares por metro quadrado (ops, por centímetro quadrado, porque tudo aqui é menor do que nos outros lugares, pode ter certeza).
No metrô, que é o principal meio de transporte de Tóquio, todo oriental que se preze passa a viagem mexendo no seu telefone móvel (olhe a foto acima para comprovar!). E é claro que ele navega da internet, tem jogos, tira fotos, faz vídeos, anda sozinho, canta, dança etc, etc. Tá, tudo bem, podem dar um desconto no meu relato porque ele não é tão independente assim, mas daqui a pouco os japoneses vão tratá-los como os Tamagotchis, os bichinhos que viraram febre no Brasil na década de 1990, lembram? Eu, aliás, como toda criança da época, tive um e não deixava o meu sem comer ou sem brincar. Bem, para isso acontecer falta pouco, pouquinho mesmo.
Basta dizer que os metrôs – de novo estou falando deles – geralmente não têm um funcionário sequer, é tudo automático. Os trens também não, o pagamento da passagem é feito em uma maquininha. Ah, lógico, além do maquinista, né?
E sabe aqueles restaurantes onde costumamos ver garçons, ou seja, quase todos no Brasil? Aqui também não é necessário ter um cara "boa gente" para atender a clientela. Alguns estabelecimentos já adotaram o estilo "pagou, comeu" e dispõem de um cardápio no formato de telão para o freguês escolher o seu prato, pagar ali mesmo, no lado de fora - na nossa amiga máquina - e já entrar com sua ficha de pedido (conferir foto acima). Ah, você também não precisa se preocupar em procurar o garçom para pagar a sua conta, pois na saída do restaurante tem um sensor de movimentos que detecta a presença de seres vivos esperando para pagar pela sua refeição. Moderno, não?

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Nota de boas-vindas (irasshaimase!)



Não lembro exatamente quando surgiu a idéia de criar um blog para repartir com outras pessoas a experiência de viver na “Terra do Sol Nascente”, mas, agora, que estou em terras japonesas e chegou a hora de tirar esse projeto do papel, a primeira preocupação que me veio à cabeça foi “batizar” esse espaço com um nome que expressasse com fidedignidade as minhas primeiras impressões sobre o Oriente - tão diverso quanto desconhecido para nós, que nascemos do outro lado do globo terrestre. E foi justamente essa distância geográfica e cultural que me incentivou a adotar um nome grandioso como Panorama Mundo, pelo menos em seu significado. No dicionário, “panorama” (do gr. pán, todo + hórama, vista) significa um grande quadro cilíndrico, iluminado do alto, disposto de modo que representa à vista a perspectiva de um aglomerado urbano ou de uma paisagem, nesse caso, a segunda maior cidade do mundo, Tóquio. Dentre os inúmeros significados de mundo (do Lat. Mundu s. m), talvez o que mais se aproxime do blog seja o de conjunto de tudo que existe, tudo quanto vemos: o espaço, corpos inanimados e seres vivos. Na verdade, tudo o que o desejo e a inteligência do Homem pode abranger; ou seja, o Universo inteiro. Enfim, começo a me sentir inspirada para relatar meus dias no Japão como se fosse um diário de bordo de uma longa viagem. Espero que vocês gostem e me acompanhem nessa aventura. Irasshaimase! * Bem-vindo (a)!